Quando o conteúdo se torna maior que a frase

Pois de todos os fatos, esse diz por si próprio o estado de coisas a que estamos submetidos. Fala mais alto que as agitações de costume, pois afinal não é agitação alguma, senão uma carta de um suicida. Enquanto tal e dado seu conteúdo exemplar, é expressão autêntica da práxis de uma classe em xeque, da miserável correlação de forças da luta de classes. A qual devemos desde já nos antecipar.

Eis a carta de Dimitris Christoulas, grego, 77 anos, farmacêutico aposentado, suicidado publicamente na praça Syntagma, semana passada.

“O governo de Tsolakoglou [referência ao nome que os gregos deram a ocupação nazista] aniquilou todas as minhas possibilidades de sobrevivência, que se baseavam numa pensão bastante digna que eu tinha pago por minha conta, sem nenhuma ajuda do estado, durante 35 anos.
Considerando que a minha idade avançada não me permite reagir de outra forma (se não fosse isso, se um compatriota grego pegasse numa Kalashnikov [nossa conhecida russa AK-47], eu seria o segundo a fazê-lo e o seguiria), não vejo outra solução além de pôr um fim digno à minha vida antes de me acabar à procura de alimentos nos contentores do lixo para sobreviver.
Acredito que os jovens sem futuro pegarão um dia nas armas e irão pendurar de cabeça para baixo os traidores deste país na praça Syntagma como os italianos fizeram com Mussolini em 1945.”